
Falta de brincadeiras preocupa uma das maiores especialistas em consumismo infantil
- 12/09/2008
A professora da Harvard Medical School Susan Linn prepara-se para lançar um novo livro no Brasil. Uma das duas convidadas internacionais do 2º Fórum Criança e Consumo, que será realizado de 23 a 25 de setembro, em São Paulo, a autora de “Crianças do Consumo”, editado pelo Instituto Alana, agora terá seu segundo título traduzido para o português pela Editora Record.
O novo livro “The Case For Make Believe” aborda como a conversão de diversas mídias, as novas tecnologias e o apelo comercial limitam o desenvolvimento infantil saudável, desencorajando crianças a vivenciarem o espaço criativo. Susan Linn alerta: “Brincar, que é tão importante para o crescimento e o desenvolvimento, está em risco de extinção.”
No livro “The Case For Make Believe”, a senhora critica duramente o fato de as crianças estarem cada vez menos envolvidas em brincadeiras criativas. Como isso pode comprometer o desenvolvimento infantil?
Brincadeiras criativas constroem a fundação de muito daquilo que faz valer a pena viver. Aprender, criar, auto-refletir, solucionar problemas construtivos e ter capacidade de lidar com a vida para deixá-la cheia de significado são fatores relacionados ao ato de brincar. Crianças privadas de brincar não têm a chance de desenvolver essas habilidades e atributos.
As novas tecnologias focadas em crianças são, de fato, um grande monstro para elas?
A combinação da onipresente, sofisticada e “miniaturizada” tecnologia aliada ao comércio sem restrições é um terrível problema para as crianças de hoje. O tempo que elas gastam com brincadeiras saudáveis está diminuindo. Um dos motivos é porque elas desperdiçam, em média, mais de 40 horas por semana com mídias eletrônicas, que são, em sua maioria, baseadas em publicidade.
É possível encontrar um equilíbrio para isso? Até que ponto o domínio das novas tecnologias pode ser ruim para uma criança?
Empresas como a Disney possuem uma densa propagação marketeira para bebês, e não há evidência crível de que isso seja benéfico para eles. No entanto, há evidências de que possa ser prejudicial.
A senhora afirma que brinquedos eletrônicos, como games, robôs, mesas de som, entre outros, são extremamente prejudiciais às crianças. Por quê?
Muitos dos brinquedos mais vendidos nos EUA estão relacionados à TV e a filmes, o que faz com que as crianças brinquem de forma menos criativa com esses brinquedos. Objetos eletrônicos que gorjeiam, bipam, apitam e fazem piruetas com o apertar de um botão não são o tipo de coisa que estimula a criatividade.
Então, o que seria um bom brinquedo?
Um bom brinquedo é 90% criança e 10% brinquedo. Blocos, bonecas e bichinhos sem chips de computador promovem essa criatividade, assim como giz de cera, tintas, cola e outras coisas do gênero. Crianças brincam mais saudavelmente na natureza. Nós precisamos assegurar que elas se envolvam mais tempo com atividades dentro e fora de casa que as mantenham longe de brinquedos e mídia eletrônicos. A maioria dos brinquedos e parafernália propagada às crianças de hoje limita mais do que promove o divertimento saudável.
A senhora acredita que, no futuro, o mundo moderno seja responsabilizado por construir adultos menos inteligentes?
Eu diria que a combinação dessa tecnologia sofisticada com o comércio sem restrições é um fator que priva as crianças de oportunidades maiores de desenvolvimento integral do potencial intelectual, emocional e social. Brincar, que é tão importante para o crescimento e desenvolvimento, está em risco de extinção. Não por acaso, nos Estados Unidos, o brincar está garantido como um dos Direitos da Criança. Nós sabemos que brincar está relacionado a criatividade, aprendizado, sucesso na escola e capacidade de dar sentido à vida.
Como os norte-americanos reagem a esse cenário?
Nos Estados Unidos, ainda estamos privando crianças de tempo, espaço e silêncio, essenciais para a saúde. De fato, atingimos um ponto em que alimentar brincadeiras saudáveis tornou-se uma ferramenta anticultural. A cultura dominante dita contra isso – em parte porque brincar do jeito certo é uma ameaça aos lucros corporativos.
(Extraido do site"criança e consumo")
Nenhum comentário:
Postar um comentário